terça-feira, 11 de julho de 2017

A teologia do Livro de Jó

O livro de Jó trata diretamente da relação Deus-homem. Segundo Zuck (Zuck, 2015) duas perguntas são básicas para a compreensão do livro. A primeira pergunta é: Porque o homem adora a Deus? A segunda pergunta é: Como o homem pode reagir a Deus se Ele não se interessa pelos problemas do homem?

A tese levantada por Satanás é que Jó amaldiçoaria a Deus diante do sofrimento imerecido, contudo, Jó reage bem as circunstâncias.

“e exclamou em oração: Nu deixei o ventre de minha mãe, e nu partirei da terra. Yahweh deu, Yahweh o tomou; louvado seja o Nome do Senhor”. (Jó 1.21)
“No entanto ele lhe afirmou: Mulher! Tu falas como uma louca. Porventura receberemos de Deus apenas o bem que desejamos e não também o infortúnio que ele nos permite? E em toda essa provação os lábios de Jó não fizeram vacilar e pecar.” (Jó 2.10).

É interessante observar que posteriormente a essas declarações Jó tomou uma atitude de aspereza em relação a Deus. Nesse novo contexto acusou Deus de ficar olhando para ele estupidamente (7.17,9; 13.27), de oprimi-lo e aterrorizá-lo (9.33; 10.3; 13.21,25), considera-lo inimigo (13.24; 19.11,12) de esconder-se d´Ele (13.24), ser injusto (19.6,7; 27.2) e ignorá-lo (30.20).

A razão dessa atitude é explicada por sua ignorância em relação a divindade e seu sentimento de que estava sofrendo injustamente. É importante frisar que mais tarde se arrependera das suas atitudes (42.1-6). Tal circunstancias serve para nos alertar a não se rebelar frente a desgraça imerecida e inexplicável, visto que, Deus tem um propósito em toda sua ação.

Enquanto Jó se esforçava para entender as razões do seu sofrer, seus amigos já tinham a resposta. Era consenso entre Elifaz, Bildade e Zofar que Jó havia pecado diante de Deus e por essa razão sofria. Esses homens entendiam que o sofrimento humano só possuía esse caráter. Eliú diferenciou um pouco desta premissa ao afirmar que o sofrimento tinha um outro proposito: proteger o homem do pecado.

“a fim de prevenir o ser humano sobre as suas más ações e livrá-lo da soberba e da arrogância.” (Jó 39.17)

Zuck (Zuck, 2015) fez um detalhado apanhado das principais ideias debatidas no livro de Jó acerca de Deus, dos homens e anjos.

Tema
Personagem
Tese







Deus











Deus



Elifaz
·         Existe nos céus (22.12), é justo e puro (4.17). Tinha consciência do pecado por parte dos anjos (4.18-19). É o criador dos homens (4.17), sendo superior a esses. É independente e não pode ser influenciado pelo homem (22.2,3), julga os ímpios e os faz perecer (4.9,18-21; 5.30), julga os tolos (15.2-7), realiza milagres (5.9), promove a justiça (5. 11-16), abençoa aos homens (5.18-26; 22.18-21), responde às orações (5,8; 22.27), disciplina os homens (5.17) e beneficia a terra com chuvas (5.10).


Bildade
·         Enfatiza a justiça de Deus (8.3) punindo o pecador (8.4). Cita as calamidades e perdas que os ímpios têm (18.5-21). Deus é justo uma vez que não rejeita os inocentes (8.20) é misericordioso (8.5-7), soberano (25.2), onipresente (25.3), puro (25.4) e criador (25.5-6).

Zofar
·         Deus é tolerante (11.6), misterioso (11.7,8), inabalável (11.10). Ele observa os pecadores (11.11), responde a devoção dos homens quando abandonam o pecado (11. 13,14) abençoando-os (11.15-20). Deus faz com que os ricos ímpios renunciem a riqueza (20.14,15), pune severamente os pecadores (20.23-28) e todos os ímpios um dia serão julgados culpados (20.29).



Eliú
·         Defendeu o direito de Deus falar aos homens (33.13-16) ou cala-se (34.29). Defendeu a justiça de Deus (34; 36.3; 37.23), destacou que o objetivo do sofrimento é afastar o homem do pecar (36.16-18), citou os atributos de Deus tais como: soberania, imensidão, eternidade, justiça, santidade, onisciência e onipotência. Afirmou que Deus é que dá vida ao homem e os mantém vivos, alimenta e estabelece normas e outros.




·         Jó falou da soberania de Deus, da sua onisciência, onipotência, da ira de Deus contra os ímpios e contra ele mesmo. Trabalhou o tema justiça de Deus (9.4), sabedoria de Deus, retidão, santidade, eternidade e bondade de Deus. Também destacou o que parecia ser o lado negativo de Deus quando abordou que Deus levanta e destrói as nações (12.23), quando considera Deus parcial em seu julgamento (13.10) e traça inúmeros outros aspectos da divindade, principalmente relacionada a ele. Em seu sofrimento Jó via o antagonismo de Deus a sua pessoa.



Deus
·         Deu destaque a sua soberania, seu poder na criação da terra (38.4-7), do mar, no estabelecimento do dia e da noite, da criação dos oceanos, dos elementos climáticos, do homem, da sabedoria, dos animais e outros. Deus dá ênfase a seu direito de propriedade (41.11) e seu sistema de justiça que excede ao homem.



Homem

Jó, Elifaz, Bildade, Zofar Eliú e Deus concordam.
·         O homem foi criado por Deus (33.6; 34.19), é dependente (33.4; 34.14,15) e inferior a Deus (33.12,13).
·         A natureza humana é mortal, fraca, impura diante de Deus, corrupta, enganosa, orgulhosa, sem esperança, pecadora, injusta, sem compaixão e de breve existência.
·         O homem é ignorante e incompetente quanto aos propósitos de Deus





Anjos





Elifaz e Eliú
·         São servos de Deus (4.18), são santos (5.1) contudo Elifaz não via os anjos livre de erro. Eles existiam antes da criação do mundo e se alegraram com a criação divina.
·         Para Eliú os anjos ajudam os homens em suas necessidades (33.23,24).
·         No livro de Jó Satanás é um ponto a parte. Ele é incapaz de questionar a avaliação que Deus faz sobre Jó e ataca os motivos da fidelidade de Jó a divindade. Ele é apresentado como uma criatura de Deus e inimigo da sua vontade (Mt 4.1-11; Lc 4.1-13). Sua estratégia é tentar Jó a ser desleal para com Deus interferindo assim na relação entre Deus e Jó. Porém amarga uma pesada derrota.

Segundo William S. Lasor (lasor, 1999), a teologia trabalhada no livro de Jó é da liberdade divina. Essa condição de Deus deixou Jó e seus amigos perplexos. Para os amigos de Jó todo sofrimento estava baseado no princípio da retribuição divina, ou seja, o que seu amigo enfrentava era fruto do pecado que havia cometido contra Deus. Contudo, Jó não aceitava essa tese e defendia a total ausência de propósito para seu sofrimento. Para Deus era uma questão de honra diante do desafio de satanás. Dentro deste contexto fica claro que os interesses que movem o Senhor só dizem respeito a Ele mesmo. Deus é soberano e age com liberdade. Para a lógica humana esse atributo de Deus é incompreensível diante de um quadro de sofrimento como o que vivenciou Jó.


                Lasor (lasor, 1999) nos assegura que o livro de Jó tem uma função didática, ou seja, prepara-nos para enfrentar situações adversas como a de Jó, além de demonstrar o valor de uma amizade quando verdadeira e consoladora, que Deus não leva em conta as nossas queixas quando em circunstancias severas quanto a vivenciada por Jó, mas também por Jeremias, Habacuque, salmistas e até Jesus Cristo. Por fim, conclui: a consciência de Jó estava livre do peso da culpa e a sua fé em Deus permaneceu inabalável antes e depois da sua morte (19.23-29).

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