sábado, 22 de junho de 2013

Centenas protestam em frente à embaixada brasileira em Tel Aviv

TEL AVIV - Cerca de 200 brasileiros se reuniram nesta sexta-feira em frente à embaixada do Brasil, no centro de Tel Aviv, em Israel, para demonstrar solidariedade aos manifestantes que protestam pelas ruas de dezenas de cidades brasileiras. Eles queriam conversar com a embaixadora Maria Elisa Berenguer, mas ela não os recebeu e deixou a embaixada sem que o grupo percebesse.

"O povo acordou, o povo decidiu. Ou para a roubalheira ou paramos o Brasil!", "Brasil, não vai ter Copa sem emprego, saúde e educação!" e "Vem pra rua, vem!", eram as palavras de ordem entoadas aos transeuntes - a grande maioria ignorantes quanto ao que acontece no maior país da América do Sul.

- Começamos a ver que os brasileiros estão se organizando em vários países do mundo e queremos mostrar que nós também nos importamos com o que está acontecendo - explicou a santista Andréa Naslavski, 27 anos, há dez morando em Israel. - Não apoiamos os atos de vandalismo nem a repressão policial. Mas acreditamos que a maioria não-violenta vai mostrar que se pode mudar alguma coisa sem partir para o vandalismo - acredita Andréa.

Os atos de depredação de alguns manifestantes durante os protestos também não afetaram a motivação do carioca Átila Drelich, de 44 anos, que aproveitou a ocasião para reclamar do políticos brasileiros como Renan Calheiros e Marco Antônio Feliciano. "Vocês são os próximos! Fora Renan e Feliciano", dizia o cartaz de Drelich.

- Defendo os protestos, mesmo que haja vandalismo. É uma manifestação popular! Só não pode haver um discurso golpista. A Dilma tem que ser derrotada nas urnas e não por golpe! O PT não reconhece que é responsável por essa onda de corrupção da última década - reclamou.
TVs internacionais e internet para acompanhar protestos

Apesar de estarem longe, os cerca de 10 mil brasileiros de Israel acompanham de perto, pela internet ou pelos canais de TV internacionais, os protestos que sacodem seu país natal. É o caro da paranaense Kayna Larrat, 36 anos, há 15 em Israel, dona de um jardim de infância em Tel Aviv. Ela levou a filha Sol, de 2 anos, para participar com ela do evento.

- Estou emocionada com esses protestos. Antes de vir morar aqui, eu fiz parte da Ubes e da UNE. Fui da geração cara-pintada, Mas o Brasil tem memória curta. Espero que agora o país esteja acordando. O povo parece ter cansado de penar - afirmou Kayna.

Um dos organizadores do protesto, o carioca Felipe Carames, 24 anos, se disse revoltado com a situação do Brasil. Segundo ele, nada justifica a construção de estádios milionários para a Copa do Mundo enquanto os brasileiros dispõem de serviços públicos insatisfatórios.

- Com certeza há coisas mais importantes do que construir estádios. Aqui em Israel, a passagem de ônibus custa a mesma coisa que no Brasil, mas aqui a gasolina é mais cara e os ônibus têm ar-condicionado, internet sem fio e chegam na hora - comparou Felipe.

Entre os manifestantes, havia até uma israelense, Ayelet Antebi, 30 anos, filha de um ex-cônsul de Israel em São Paulo, que levava um cartaz em inglês: "We don't need the World Cup. We need education and hospitals" (Não precisamos de Copa do Mundo. Precisamos de educação e hospitais"). Segundo ela, os investimentos na Copa de 2014 acontecem em detrimento do povo.

- Os brasileiros têm todo o direito de exigir mais de seu governo. É uma sociedade em mudança. Precisam mesmo protestar! - garantiu Ayelet, que morou três anos no Brasil.

Jornal conservador destaca repressão policial

Os jornais israelenses já haviam fechado suas edições de sexta-feira quando as manifestações se acirraram, mas site de notícias online destacaram as manifestações em 80 cidades. O site NRG, do jornal Maariv, chamou os protestos de "Manifestações do milhão" e afirmou que ele foram "os maiores em duas décadas" em toda a América Latina. Outro site, Mako, ligado ao Canal 10 de TV, decidiu usar o estereótipo do carnaval para chamar a atenção de seus leitores: "O país do samba exige justiça social", afirmou.

Já o site YNET, do jornal Yedioth Aharonoth, destacou o papel das redes sociais em sua reportagem, intitulada "Milhões de pessoas protestaram no Brasil: 'Saímos do Facebook'". No texto, o site afirma que o cancelamento do aumento das passagens de ônibus por prefeitos de grandes cidades não foi o suficiente para estancar as manifestações em 80 cidades. O site israelense destacou que alguns manifestantes disseram que foram influenciados pelos protestos na Turquia.

A reportagem do YNET também assinalou a repressão policial com gás lacrimogêneo, spray pimenta e até mesmo balas de borracha, relatando a morte de um manifestantes de 18 anos em São Paulo. "As ruas se encheram de energia e de manifestantes levantando palavras de ordem em protesto a quase tudo - de educação, transporte público, investimento em estádios de futebol e outros. As massas pediram melhor nos serviços públicos e o fim da corrupção. Isso apesar de os prefeitos das grandes cidades do país terem anunciado o cancelamento do plano de aumento dos preços das passagens de ônibus".

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