segunda-feira, 30 de maio de 2011

Comendo cascas ou se fartando com o miolo do pão

Acordei pela madrugada e senti a necessidade de orar ao Senhor. Após o momento de oração comecei a refletir sobre esse gesto. Fiquei imaginando que ao longo dos séculos homens e mulheres buscaram a presença de Deus, de forma intensa ou não, dependendo das condições que imperava em seus dias. Enquanto esses pensamentos vagueavam por minha mente comecei a relacioná-los com a crise espiritual vivenciada pela igreja em nossos dias. É notória a falta de poder e a pouca inspiração que toma conta dos arraiais evangélicos, e as razões para essa situação me parecem óbvias nesse momento: A falta de intimidade com o Senhor.

Nesses dias, até por força do trabalho, tenho estudado um texto sobre as diversas cosmovisões em vigor em nosso mundo [teísmo, deísmo, naturalismo, niilismo, existencialismo, misticismo oriental e Nova Era]. Nesse estudo tenho aprendido conceitos como transcendência, imanência, a natureza e o caráter de Deus, a natureza do universo, a natureza da humanidade, a questão do que acontece quando uma pessoa morre, a base do conhecimento humano, a base da ética e o significado da história, dentre outros. Todos esses ensinos sem dúvida nenhuma são de grande importância para o cristão, contudo não podemos nos acomodar a sermos meros ouvintes ou estudantes da palavra, mas praticantes da mesma.

“Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não apenas ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquecer de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” [Tiago 1. 22-23].

É necessário avançarmos além do mero conhecimento formal da palavra. Quando medito sobre a vida de Pedro, de Paulo e Tomé vejo pessoas diferentes que aprenderam de Deus e evoluíram para um nível de intimidade absurdamente desejável por mim ou qualquer cristão deste planeta.

Esses homens andaram, viram e sentiram de forma diferente a grandeza de Deus. Taí, o segredo de tanto poder da igreja primitiva, de tanta criatividade. Eles não se limitaram a conhecer a Deus, mas o vivenciavam em seu dia-a-dia. Não ficaram satisfeitos com a casca, mas buscaram com toda sua força se nutrir com o miolo do pão.

Meu Deus, como nos transformamos em crentes superficiais! Onde está o ponto de partida para um profundo mergulho na intimidade com o Senhor? Como conseguir isso sem meditar na sua palavra e orar? E mesmo estando nesse estágio espiritual, como não nos limitarmos a conhecer formalmente ao Deus todo poderoso como se fôssemos participar de uma banca acadêmica, pela qual estaríamos sendo avaliados em nossa capacidade de dissecar todos os atributos de Deus?

Nesse momento sinto-me incomodado. Alguns dias atrás eu visitei uma amiga que se encontra gravemente enferma e pude perceber em seu rosto relances de uma profunda experiência com Deus. Como ela vibra de alegria e gratidão ao Senhor pela possibilidade de ir ao banheiro sem companhia, de poder mastigar e engolir a sua refeição, de conversar com nós outros e coisas assim. Comer o miolo do pão, não somente se fartar com as cascas.

Tomé andava com Cristo, conhecia todos os seus milagres, sentia o calor da sua presença, seus ouvidos estavam acostumados ao tom da sua voz, mas não conseguiu transformar toda essa experiência em fé. Estava tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Achava tudo aquilo gostoso, desafiador, inquietante; contudo, até o toque em suas chagas, seus conhecimentos não foram suficientes para acender a chama da fé. Foi necessário algo mais. O próprio Cristo ajuda seu discípulo a ultrapassar a fronteira da superficialidade espiritual para se encher da glória de Deus.

“Respondeu Tomé: Senhor meu e Deus meu” [João 20. 28]

É por conta desse formalismo barato que temos irmãos carnais, líderes hipócritas, crentes salvos, porém com pouco ou quase nenhum poder, descrentes nos milagres de Deus, verdadeiros zumbis espirituais em meio às nossas igrejas. Conhecedores de Cristo, mas jamais crentes maduros, eficazes e operosos no Senhor.

Pedro negou a Cristo três vezes, apesar de caminhar lado a lado com o Senhor por três anos; Paulo, até se converter, estava se preparando para ser um doutor da Lei tendo como mestre Gamaliel, o melhor rabino da sua época. Ambos ouviram e meditaram nas sagradas escrituras quer por contato direto com o Deus filho, quer por meio dos textos sagrados, porém ambos precisavam de algo a mais. Paulo, consumido pelo zelo religioso, torna-se insensível espiritualmente e passa a perseguir os discípulos do Deus, por quem estava disposto a dar sua própria vida.

Todos eles tiveram que ultrapassar as fronteiras da superficialidade, todos tiveram de sentir o toque do Deus vivo para se tornarem operosos na obra do Senhor e não apenas conhecedores da sua existência. E uma vez transformados testemunharam do poder que emanava dos céus, refletindo esse mesmo poder para toda comunidade cristã através de suas vidas.

Deus querido, eu quero também ultrapassar essa fronteira, chega de análise sem maiores consequências, chega de cascas de pão, farte-me do miolo, ensine-me a mergulhar profundamente na sua mais completa intimidade. Por favor, meu Pai. Em nome de Jesus Cristo. Amém!



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