segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A presença judaica no Brasil - 01


Numa destas tarde no Mario Lira foi abordado pelo meu amigo judeu. Entre os diversos temas que debatemos um me chamou especial atenção, foi quando ele falou incisivamente:

-        Você meu caro é de ascendência judaica.

Fiquei curioso com a revelação e logo procurei saber se esta história tinha ou não lógica. Meu amigo logo esclareceu:

-        A família Medeiros, assim como qualquer outra família sertaneja que tenha sobrenome de plantas, animais são de origem judaica – e continuou - A razão para isso é clara, para fugir dos pogroms na Europa os judeus haviam se mudado para o Brasil e aqui mantiveram suas praticas religiosas. A adoção destes nomes advinha de duas hipóteses: fugir da perseguição do Santo Ofício ou mediante a adoção do seu novo nome de cristão novo.

Essas informações aguçaram minha curiosidade e passei a procurar mais informações para confirmar ou refutar o amigo. Nessa semana ao visitar a biblioteca do Instituto Padre Miguelinho me deparei com um periódico da Biblioteca Nacional (julho, 2010, nº58) que tinha como reportagem de capa: “Judeus no Brasil: terra prometida nos trópicos”.

O que passo agora para meus irmãos de perto e da distância é um apanhado do que li nesse periódico.

Esquadra de Cabral
A presença judaica no Brasil vem desde o descobrimento. Entre os registros históricos da esquadra de Cabral temos a figura de Gaspar da Gama, cristão novo de Alexandria que colaborava com o esforço expansionista lusitano. Ele destoa entre os demais membros da tripulação, contudo pode não ter sido o único judeu nessa empresa.

A parceria entre a coroa lusa e a comunidade judaica era antiga e teve inicio desde o século VI da era cristã. Em Portugal os judeus gozavam de certa autonomia que não desfrutavam em nenhum outro lugar da Europa. Nessa época era comum ocuparem cargos públicos, ter suas empresas e desfrutavam de relativa liberdade de culto e simpatia de alguns monarcas lusos. Contudo, essa situação muda drasticamente a partir do século XV-XVI, quando D. Manuel (1495-1521) expulsa oficialmente os judeus do seu reino, mas proíbe sua debandada. Na prática força os judeus a se converterem ao cristianismo. Os judeus era uma força econômica considerável para o Estado Luso, portanto, não podiam deixá-los partir (isso me lembra o cativeiro do Egito).

Essa conversão forçada ao cristianismo dar origem ao termo “Cristão Novo”. Esse conceito é usado para diferenciar os judeus convertidos dos gentios (cristãos velhos). Com a instauração do Santo Ofício em 1536, parte da comunidade Sefarditas (Península Ibérica) se espalham pela Europa, Norte da África, Angola, China, Indonésia, Japão e Brasil.

A saída dos judeus de Portugal acaba trazendo prejuízos a sua economia. Em parte porque foram eles um dos principais articuladores da expansão lusa. Neste sentido, qualificações é que não faltavam:

·         Comunicavam-se em latim, português, hebraico e idiomas de povos locais.
·         Financiaram as viagens de conquistas.
·         Contribuíram com o conhecimento técnico (construções de embarcações, uso de mapa, bússolas, etc.).

Contudo, os poderosos da época não faziam caso desta situação ou não avaliavam bem a sua extensão. O Brasil despontava como um novo paraíso para os judeus, visto que a Europa com seus pogroms inviabilizava qualquer projeto de vida. A escolha da colônia americana tinha lá seus motivos:

·         Não existia Tribunal do Santo Ofício no Brasil.
·         A colônia vivenciava um forte crescimento econômico.

Tortura inquisitorial
Uma vez no Brasil participaram da vida política e social a tal ponto que muitos judeus tornaram-se senhores de engenho e como tal influenciaram e se deixaram influenciar pela cultura colonial. Um exemplo disto era a existência de casamento entre gentios e judeus, fato este que distendeu por um bom tempo a relação nada amistosa entre as elites coloniais e os judeus brasileiros.

Nos anos 1591-1595, o Santo Ofício visitou o Brasil quebrando a harmonia conquistada à duras penas por judeus e gentios. Entre esses anos as províncias da Bahia, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba foram visitadas pelos inquisidores que recolhiam provas contra suas prováveis vítimas. As principais pistas para se capturar um criptojudeu eram:

·         Se o indivíduo usava roupas limpas.
·         Se arrumar a casa à sexta-feira.
·         Se não pronunciar o nome de Jesus Cristo.
·         Se o indivíduo preparava comida segundo a tradição judaica.
·         Se não comia carne de porco.

Identificado o judeu deveria ser denunciado imediatamente ao Tribunal do Santo Ofício que assumiria o caso a partir deste ponto. Diante desta situação a tradição judaica ficou restrita ao ambiente familiar cabendo a mulher o papel de mãe, professora e rabi da família. Um exemplo dessa realidade está na prisão, julgamento e morte da octogenária Ana Rodrigues, judia brasileira, resistente cultural em terras lusitanas.

Continua.

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